Orientações para pacientes e familiares

 As informações destinadas a pacientes e seus familiares foram traduzidas do site www.neurosymptoms.org por Bruna Bartorelli mediante autorização de seu organizador, Professor Jon Stone, neurologista especialista em transtornos neurológicos funcionais da Universidade de Edimburgo, Escócia.

Crises
Não-Epilépticas

Crises dissociativas (não epiléticas) / Convulsões

Esses são dos sintomas funcionais / dissociativos mais comumente encontrados em neurologia. Crises dissociativas também podem ser chamadas de “crises não epiléticas”, “crises psicogênicas” e “crises/convulsões funcionais”.

Elas são incapacitantes e angustiantes, podendo se assemelhar muito com crises epiléticas. Os doentes podem ter movimentos do tipo convulsivo ou simplesmente deixam de estabelecer contato com o meio e/ou as pessoas que os rodeiam por um período longo de tempo.

Ao contrário da epilepsia, essas crises não são devidas à atividade elétrica cerebral anormal ou a outra doença neurológica. São, no entanto, relacionadas a um problema temporário no modo como o sistema nervoso funciona, como num estado de ‘transe‘. São potencialmente tratáveis, embora não com medicamentos, sendo que o tratamento pode não ser fácil.

As crises dissociativas (não epiléticas) não são raras. Cerca de metade das pessoas que são levadas ao hospital por suspeita de epilepsia tem na realidade uma crise não epilética. Muitos pacientes com crises dissociativas têm sido diagnosticados erroneamente com epilepsia em algum momento da sua doença e, portanto, acabam sendo medicados com remédios para a epilepsia, que não são isentos de risco.

Tipos de Crises Não-Epilépticas

 

Com movimentos: Tipicamente, o paciente exibe movimentos que se assemelham a uma crise epilética generalizada.

 

Sem movimentos: Nessas crises, os pacientes caem e ficam imóveis, deixando de responder durante vários minutos.

Características específicas e típicas das
Crises Dissociativas

 

• Longa duração das crises.

• A natureza dos movimentos anormais da cabeça e dos membros, se existirem.

• A presença de um período prolongado de não responsividade.

 

• A aparência dos olhos e boca durante a crise,

• Se teve ou não algum tipo de “aviso” antes da crise. Esses avisos antes das crises dissociativas podem ter duração variável, alternando entre ficarem ausentes até várias horas. Há frequentemente um padrão de escalada dos sintomas físicos antes da crise, habitualmente com sintomas dissociativos.

• Pacientes com crises dissociativas frequentemente têm maior dificuldade em descrever as suas crises dos que tem epilepsia.

 

O diagnóstico de crises dissociativas requer um médico experiente no diagnóstico de epilepsia, uma vez que elas se apresentam de diversas maneiras. Ambas podem se apresentar de forma muito semelhante, dificultando o diagnóstico mesmo para profissionais experientes.

Crises Dissociativas - Categorias:

  • Aleatoriedade:

    Uma das coisas mais confusas relacionadas a essas crises é o fato de elas aparecem de forma imprevisível, sem aviso prévio.

  • Repouso:

    Surgem em repouso, e não quando o paciente está distraído: Esses sintomas aparecem mais frequentemente quando o paciente está em repouso, por exemplo, na cama ou no sofá. Se estiver distraído ou concentrado numa tarefa, é muito raro que eles se manifestem.

  • Com hiperventilação:

    Em algumas pessoas, essas crises podem ocorrer simultaneamente com a hiperventilação. Você pode nem sequer notar, no entanto é sabido que esse fator é capaz de agravar o episódio de crise. É importante ter conhecimento dessa informação, uma vez que assim um eventual futuro episódio poderá ser evitado numa fase precoce. Os sintomas físicos que o paciente poderá vivenciar durante a crise são rubor facial, aperto no peito e hiper-sudorese, ou hiper-hidrose, nas mãos. Por vezes, esses sintomas são muito semelhantes aos de um ataque de pânico.

  • Despersonalização/desrealização:

    Descrevem sintomas dissociativos experienciados por muitos pacientes simultaneamente às crises conversivas. Eles correspondem a um sintoma perturbador de que o mundo ao redor não é real, ou de que eles não se sentem conectados ao próprio corpo, ou, ainda, que tudo parece estranho ou muito distante. É importante saber que esses sintomas podem surgir como parte da crise. Muitas pessoas nunca vivenciaram isso e podem sentir que estão prestes a morrer quando sentem esses sintomas pela primeira vez. Frequentemente, os pacientes descrevem que estão conscientes, mas que são incapazes de estabelecer comunicação com as pessoas ao redor.

Dúvidas

 
  • Nas crises dissociativas todas as partes do sistema nervoso estão intactas, só não estão funcionando adequadamente em certos momentos. O diagnóstico é feito escutando o paciente sobre o que ocorre durante a crise e falando com eventuais testemunhas desses episódios.

    Pacientes com crises dissociativas têm exames de imagem cerebral normais, bem como os demais exames complementares (exemplo, EEG).

  • As crises dissociativas são um problema complexo, que surge por diferentes motivos em diferentes pessoas. Esses sintomas são acompanhados de sentimentos de frustração, preocupação e humor deprimido, mas que não são a causa do problema.

  • Pacientes com crises dissociativas frequentemente têm um pequeno aviso em cerca de metade dos casos. Uns podem nunca ter, outros sempre possuem. Frequentemente, esses sintomas premonitórios ficam mais curtos ao longo do tempo, até desaparecerem.

    Compreender essa fase de aviso, aprender a prolongar a mesma e de que forma a crise dissociativa pode ser uma resposta do próprio corpo a esses sintomas de alarme podem ser fundamentais para enfrentar as crises dissociativas não epiléticas.