Orientações para pacientes e familiares

 As informações destinadas a pacientes e seus familiares foram traduzidas do site www.neurosymptoms.org por Bruna Bartorelli mediante autorização de seu organizador, Professor Jon Stone, neurologista especialista em transtornos neurológicos funcionais da Universidade de Edimburgo, Escócia.

Espasmo Facial / Distonia Funcional

Pacientes com sintomas neurológicos funcionais podem ter a face afetada. Eles são muito mais comuns do que se pensava até 10 ou 15 anos atrás, embora na verdade eles tenham sido reconhecidos durante mais de um século.

O tipo mais comum de sintoma facial funcional é o espasmo dos músculos ao redor dos olhos ou na metade inferior do rosto.

O espasmo facial funcional pode acontecer isoladamente, mas também é comum ter algum outro sintoma descrito neste site, especialmente fraqueza funcional dos membros. Se a fraqueza funcional do membro estiver presente, esta é quase sempre do mesmo lado do espasmo facial, um fato que interessa aos cientistas que tentam entender a base dos sintomas neurológicos funcionais no cérebro.

Embora a maioria dos episódios de espasmo facial funcional dure minutos, eles podem durar horas ou, em casos raros, ficar quase que permanentemente.

Às vezes, a língua também pode estar envolvida no espasmo. Geralmente, se isso acontecer, quando a língua é estendida (pedindo ao paciente para colocá-la para fora), ela aponta para o mesmo lado do espasmo facial.

Espasmo facial funcional tipicamente ocorre por episódios e afeta apenas metade do rosto. Os músculos ao redor dos olhos (chamados orbicular dos olhos) contraem em espasmo, o que leva ao estreitamento da abertura do olho e deixando a sobrancelha mais baixa no lado afetado

 

Quando o espasmo facial funcional afeta a metade inferior do rosto, o canto da boca pode ser puxado para baixo e, às vezes, a mandíbula também é puxada. A boca é puxada para baixo por causa do espasmo de um músculo chamado platisma – este é o músculo que todos nós temos sob a pele na frente do nosso pescoço. Estas fotos mostram a mandíbula da Lucy sendo puxada para o lado direito da sua boca. Além disso, ela tem espasmo do músculo platisma à direita, que está puxando o lábio para baixo desse mesmo lado. Veja a história da Lucy aqui.

 

Depoimentos

 
 

Espasmo Facial X Paresia Facial

Quando a boca é puxada para baixo, pode originar uma aparência assimétrica que é muitas vezes erroneamente interpretada como paresia facial. Os médicos que não conheçam o espasmo facial funcional podem interpretar os sintomas como sendo os de um acidente vascular cerebral, embora o primeiro seja um problema com hiperatividade muscular e não por paresia, como tipicamente ocorre num acidente vascular cerebral.

Espasmo facial funcional - Como é feito o diagnóstico?



É importante que o médico que faz o diagnóstico esteja familiarizado com as outras causas de espasmo facial. Uma das principais diferenças é que o espasmo típico das condições listadas abaixo geralmente é bastante breve (ou seja, com duração de segundos), enquanto no espasmo facial funcional a hiperatividade dura alguns minutos ou mais.

Existem outras diferenças que um neurologista experiente pode buscar, como o padrão de espasmo, fatores desencadeantes e sintomas associados.

Outras condições que causam espasmo nos músculos faciais que NÃO são classificados como distúrbios funcionais incluem:

Paresia facial funcional: 

Isso é raro. Uma das situações em que ela pode ser vista é quando alguém tem uma alteração funcional da fala. Alguns pacientes acham que não conseguem fechar a boca adequadamente quando falam e isso pode ser interpretado como paresia facial.

Pálpebras caídas ou fechadas funcionais (ptose):

No espasmo facial funcional, embora o músculo ao redor dos olhos seja hiperativo, a pálpebra em si não é afetada. Mas às vezes uma pálpebra caída, chamada ptose, pode ser o resultado de um transtorno neurológico funcional. Um cuidado especial é necessário para fazer o diagnóstico, pois há muitas causas de ptose, como miastenia gravis, pele frouxa nas doenças da pálpebra e outras.

Ocasionalmente, as pálpebras, em vez de estarem fracas como na ptose, podem ficar fechadas e dificultar a abertura do olho. De longe, a causa mais comum disso é uma condição chamada blefaroespasmo, que é um transtorno do movimento que não se relaciona com transtornos funcionais. Mas raramente esse sintoma pode ocorrer como um transtorno funcional. Pode ser particularmente incapacitante, pois, obviamente, se ambas as pálpebras estiverem fechadas, a pessoa que está passando por esse sintoma não poderá enxergar bem.

Doenças do Movimento
Sintomas disruptivos e incapacitantes

  • Tremor:

    Quando um braço ou uma perna se move de forma descontrolada. No tremor funcional isso é frequentemente muito variável. Pode até desaparecer quando o paciente está distraído, mas em outras ocasiões pode ser bastante perturbador para ele.

  • Abalos/espasmos:

    Alguns pacientes desenvolvem movimentos involuntários amplos, que podem ser particularmente causados por sons muito altos, luzes/flashes ou períodos de dor.

  • Espasmos/contraturas:

    Algumas pessoas se deparam com posturas anormais das mãos ou dos pés que são difíceis de controlar. Esse pode ser um problema temporário intermitente (um espasmo) ou ser mais crônico (geralmente também chamado de distonia fixa funcional /contratura). Pacientes com distonia funcional frequentemente têm uma “mão fechada” ou um “pé invertido”.

  • Perturbações da marcha:

    Uma variedade de padrões de marcha pode ocorrer no âmbito dos transtornos funcionais. O mais comum é a marcha em que o doente “arrasta” o membro inferior pelo solo l. A marcha instável também está associada a pacientes com histórico de quedas, que acabam desenvolvendo receio de cair.

Abalos / Mioclonias:

Também chamados de mioclonias. As mioclonias funcionais são caracterizadas por:

1. Mioclonias em antecipação ou resposta a sons de elevada intensidade (embora possam existir outras causas).

2. Presença de uma onda cerebral chamada potencial de Bereitschaft, que antecede o movimento e não está presente nas mioclonias provocadas por algum transtorno neurológico (essa onda é detectada por eletroencefalograma).

Abalos benignos: Por vezes também são designados por “fasciculações benignas”. Muitas pessoas, de tempos a tempos, têm pequenas contrações musculares, sobretudo ao redor dos olhos ou dedos. São tão comuns que são consideradas normais.

No entanto em algumas pessoas podem se tornar mais frequentes e estar presentes em várias regiões do corpo, durante grande parte do dia. Isso pode levar a situações de ansiedade em torno da causa desses sintomas, o que por si só irá agravar as contrações.

Geralmente, esses movimentos benignos são mais comuns em estudantes de medicina e médicos, que ao desenvolverem esses sintomas ficam preocupados com a possibilidade de terem esclerose lateral amiotrófica (ELA), uma doença de neurônio motor.

De fato, nesses casos, os movimentos afetam toda a fibra muscular, enquanto as fasciculações da ELA são movimentos mais isolados. Assim, essa condição pode apenas ser designada, de forma alguma erroneamente, por fasciculações benignas.

Espasmos:

 

Espasmos funcionais são comuns nas mãos e nos punhos. Nas mãos pode tratar-se do chamado “espasmo carpopedal”. Isso ocorre em outros transtornos, como na hipocalcemia, uma condição que deve ser investigada antes de se considerar o diagnóstico de “funcional”.

Esse tipo de espasmo também é frequente em situações de hiperventilação

Postura fixa
(distonia funcional):

Descreve uma posição, geralmente da mão ou dos pés, em que estes permanecem fixos de forma permanente ou durante grande parte do tempo.

Essas posturas são associadas a algum grau de déficit motor funcional do membro e/ou dor. Há uma sobreposição com a chamada  Síndrome de Dor complexa regional tipo 1.

Os dois tipos mais comuns são:

1. na mão (a aparência pode ser semelhante ao espasmo carpopedal ou por vezes com a mão “fechada”);

2. no pé, situação em que frequentemente o tornozelo se inclina para dentro.

Marcha funcional:

Existem vários tipos de marcha funcional, ou seja, dificuldade no andar que não é devida a uma transtorno neurológico.

Há vários tipos descritos:

1. Lentidão excessiva: uma marcha muito lenta em que o pé tem tendência a ficar “agarrado” ao chão.

2. “Walking on ice” (em português “caminhar no gelo”): uma marcha muito cautelosa em que os pés ficam afastados e as pernas, muito rígidas. 

3. Agachado: uma forma de caminhar em que a pessoa parece estar agachada. Geralmente é associada ao medo de cair.

4. “Sudden knee buckling”(agachamento súbito): tipicamente é associado à fraqueza motora funcional das pernas. Por vezes, o problema está relacionado com  ataques súbitos, embora seja importante reconhecer que há outras causas, como, por exemplo, problemas nos joelhos.

5. Instável: uma marcha geralmente instável com passos laterais súbitos.