Tratamentos
As informações destinadas a pacientes e seus familiares foram traduzidas do site www.neurosymptoms.org por Bruna Bartorelli mediante autorização de seu organizador, Professor Jon Stone, neurologista especialista em transtornos neurológicos funcionais da Universidade de Edimburgo, Escócia.
Tratamento do tremor/mioclonias
Esta seção é baseada principalmente na experiência do autor em tentar ajudar centenas de pacientes com paresia funcional a obterem melhoras.
Consulte as seguintes seções antes de continuar:
1. Fraqueza funcional
É importante entender que esses sintomas são comuns, e não significa que você está ficando louco, e são potencialmente reversíveis mesmo sem o uso de medicação.
2. Compreender o diagnóstico
É essencial confiar que o seu médico fez o diagnóstico correto.
3. Fisioterapia e exercício
Aqui são explicados alguns princípios básicos por trás da reabilitação e exercício para sintomas funcionais, incluindo fraqueza de membros, dor e fadiga.
4. Psicologia? Eu não sou louco
Se o seu médico te encaminhou a um psicólogo ou psiquiatra, pode ser que você esteja se perguntando por qual motivo. Leia esta seção para te ajudar a entender melhor.
Aprender a superar transtornos funcionais do movimento
Ainda estão sendo estudados os melhores tratamentos para pacientes com sintomas relacionados a transtornos funcionais do movimento.
Compreender
É absolutamente surpreendente descobrir que simplesmente receber uma explicação clara e compreensível sobre os sintomas pode desencadear um extraordinário impacto positivo no prognóstico. Muitas vezes, pacientes com transtornos funcionais do movimento podem ter passado meses ou mesmo anos sem um diagnóstico (ou às vezes com um diagnóstico alternativo, como doença de Parkinson).
Pode levar tempo até realmente compreenderem o significado do diagnóstico de um transtorno funcional. Esse pode ser o passo fundamental para que os pacientes comecem a se sentir melhores.
Ver como é que isso se encaixa com todos os outros sintomas também pode ser uma parte importante do diagnóstico, pois ajuda a entender que os seus sintomas fazem todos parte do mesmo diagnóstico, e não são causados por diferentes doenças.
Por essa razão, é provável que alguns dos tratamentos comprovadamente eficazes para pacientes com síndrome da fadiga crônica/ esclerose múltipla (EM) e dor crônica também sejam para transtornos funcionais do movimento.
Esses incluem:
1. Exercício gradual/ fisioterapia
2. Terapia cognitivo-comportamental
3. Medicação para aliviar a dor e melhorar o padrão de sono
Aspetos específicos dos transtornos funcionais do movimento
Perturbações paroxísticas do movimento
Alguns pacientes com tremor notam que esse sintoma surge por “crises” ou episódios espaçados. Esses episódios podem ser precedidos de sintomas conversivos. Embora os pacientes com esse problema não percam a consciência, o aconselhamento sobre o tratamento e as dicas para evitar crises podem ser semelhantes às referidas para as crises conversivas. Consulte as demais páginas de Tratamento, onde elas são referidas, e veja se alguma poderá se aplicar ao seu caso.
Pense no quanto os seus sintomas variam
A variabilidade é uma característica comum de muitos sintomas funcionais. Se pensar sobre isso, é uma razão pela qual o diagnóstico de sintomas funcionais faz sentido. Se houvesse danos estruturais no sistema nervoso, o sintoma poderia flutuar um pouco, mas não drasticamente, como acontece com os transtornos funcionais do movimento.
Existem várias razões pelas quais os transtornos funcionais do movimento podem ter a sua gravidade acentuada:
1. Em momentos de maior fadiga
2. Em momentos de maior sofrimento
3. Quando se pensa conscientemente sobre o movimento, especialmente quando se está sentado descansando sem ocupação ou deitado na cama.
Vale a pena pensar um pouco sobre este último tópico. Já deve ter notado que, quanto mais você presta atenção aos seus movimentos, pior eles ficam.
Tente, tanto quanto possível, não pensar neles. Lembre-se de que, com os transtornos funcionais do movimento, você está tentando recuperar o controle de um membro que pode sentir como se não fosse completamente “seu”.
Às vezes, os pacientes relatam que para eles um tremor ou uma postura anormal parece “natural”, ao passo que ter um membro que está na posição normal não lhes parece natural.
Pode ser que você precise treinar o seu cérebro para que ele comece a sentir a posição normal como natural novamente. Leia a história de Anna na página Depoimentos de pacientes para ver um exemplo disso.
Tente estas coisas específicas para os sintomas individuais
(agradecimentos a Glenn Nielsen, fisioterapeuta do Institute of Neurology, Londres)
Fisioterapia
Todos estes exercícios precisam ser praticados repetidamente – muitos deles parecerão difíceis ou mesmo impossíveis no começo, pois você está tentando quebrar um “hábito” do seu cérebro, o que não é fácil de fazer.
1. Tente simular um tremor voluntário “por cima” do seu tremor existente (em sobreposição), talvez simulando com um braço o movimento de um maestro de uma orquestra. Em seguida, mude-os para movimentos mais amplos e lentos e termine. O seu tremor funcional parou rapidamente quando fez isso? Continue a praticar para ver se isso ajuda a ter um maior controle sobre o tremor.
2. Veja se você consegue “interferir” no ritmo do seu tremor funcional fazendo um movimento rítmico com o braço ou a perna “boa”. Peça a um amigo para fazer um movimento de bater os dedos/perna que você tenha que copiar. O amigo deve começar com um ritmo constante, mas depois acelerá-lo e desacelerá-lo, o que se tornará mais difícil de acompanhar. Se o ritmo do tremor funcional mudar dependendo desse ritmo “externo”, então veja se é possível diminuir o ritmo externo até que o tremor pare.
3. Aprender a contrair e relaxar os músculos. O tremor funcional geralmente ocorre porque o paciente está contraindo todos os músculos do braço ou da perna de uma só vez. Aprender uma técnica chamada relaxamento muscular progressivo pode te ajudar a ter mais controle sobre a contração muscular.
4. Olhe para um espelho ao tentar implementar essas técnicas. Isso pode ajudar o seu cérebro a aprender onde é que a interpretação ficou equivocada.
5. Se a sua perna continuar a “saltar” quando você estiver sentado, pratique manter o pé no chão durante o maior período de tempo que conseguir. Pode parecer estranho no início, mas irá ajudar.
Pode ainda valer a pena tentar a hipnose. Às vezes, sob hipnose, o tremor melhora, e você pode inclusive aprender hipnose para praticar em casa.
Associação com ansiedade
O tremor funcional pode, em alguns pacientes, estar especialmente relacionado com a ansiedade.
Frequentemente, o tremor está associado a sentimentos de ansiedade. “O que as pessoas vão pensar de mim? Vou começar a tremer todo? Vai ser muito desagradável?” Estes são pensamentos de alguém ansioso.
Muitos pacientes com tremor funcional não têm ansiedade, mas, caso tenham, pode ser importante enfrentar esse problema e procurar tratamento específico direcionado a controlar essa preocupação excessiva.
Alguns pacientes contam que os episódios de tremor acontecem para se “libertarem” de um acúmulo de sintomas difíceis de descrever, como tensão ou tontura sem explicação. Na realidade, eles não querem que o tremor aconteça, mas reconhecem que, quando isso ocorre (se acontecer por “episódios”), parece que diminui a sensação que estavam vivenciando. Se isso se aplica a você, pode ser importante discutir isso com o seu profissional de saúde.
Distonia funcional
Ainda estão em andamento as descobertas de técnicas específicas mais úteis na distonia funcional.
Como princípio geral, tentar mover a parte afetada é muito importante, embora isso possa não ser possível.
Alguns dos tópicos seguintes podem ajudar:
1. Mudar as posturas de quando se está sentado e em pé
2. Dessensibilize o membro usando técnicas aprendidas para a síndrome da dor regional complexa
3. Olhe para um espelho para dar ao seu cérebro um feedback de que o membro não está na posição correta. Por exemplo, alguns pacientes contam que sentem que o pé está na posição normal ou natural, mesmo quando ele está dobrado.
4. Usar um espelho para “enganar” o seu cérebro para que ele perceba que o pé ou mão anormais estão normais. Essa é a mesma técnica usada em pacientes com dor fantasma e com síndrome de dor regional complexa.
5. Pratique “imaginar” que o seu pé ou a sua mão está novamente numa posição normal.
Os tratamentos adicionais, que são por vezes utilizados na distonia funcional, incluem:
Hipnose: Em estados de hipnose, algumas pessoas percebem que a distonia melhora ou até desaparece temporariamente.
Sedação: Ela apenas é potencialmente eficaz em pacientes com distonia “fixa” que não conseguem reverter os seus membros para uma posição normal em nenhum momento. A sedação permite o exame de quaisquer contraturas musculares existentes. Se feita corretamente, pode estimular movimentos normais que o paciente não experimentava havia muito tempo. No entanto só deve ser feita se o seu médico tiver experiência com essa técnica. Não é uma cura para a distonia fixa.
Transtornos da marcha (marcha funcional)
1. Tente cantar uma música (na sua cabeça, se for preciso!) enquanto caminha. Acha que isso ajudou a caminhar melhor?
2. Tente caminhar para trás (andar de costas) se tiver dificuldades em andar. Andar para trás estabelece um “programa” diferente no cérebro, e você pode ficar surpreendido se descobrir que é mais fácil do que andar para frente.
3. Correr. Para pacientes que conseguem, às vezes uma corrida leve facilita o movimento. Isto é um pouco como alguém gago que tem dificuldade para falar, mas consegue cantar normalmente.