Somatização: sofrimentos psíquicos e corporais e seus desdobramentos na prática clínica

Sofrimento psíquico e corporais

Por: Bruna Bartorelli Júlia Catani Fabienne Yaemi Cutrim Ohki

INTRODUÇÃO  

Este capítulo discute a questão das origens, do diagnóstico e do tratamento sobre o que pode ser observado como conflitos entre a mente e o corpo. Embora seja comum o esforço, mesmo que para fins didáticos de separação dicotômica mente e corpo, isso é apenas uma tentativa de melhor compreender o sistema corporal-psicológico. Reconhecer isso é admitir que um interfere no outro constantemente mesmo que não seja possível dar-se conta disso a todo tempo do ponto de vista da racionalidade.

O processo de interferência é tão significativo que as doenças corporais aparecem ou se agravam de modo relevante por conta das apreensões mentais. Os medos e ansiedades são tamanhos que podem levar a falsas compreensões da realidade, como a certeza de estar doente, tal como se observa em quadros hipocondríacos, ou levar pessoas a procurarem especialistas sem uma real necessidade orgânica e comprovada do ponto de vista de exames laboratoriais ou por imagens.  

Afirmar que esse processo não pode ser identificado por procedimentos clássicos da medicina não é o mesmo que dizer que o paciente não tem nada, que a doença não existe ou que não há sofrimento. Dentre os objetivos do capítulo pretende-se levar o leitor para conhecer os aspectos históricos dos mal-estares nomeados pela psiquiatria como transtornos somáticos, conhecer a origem desse quadro que passou por diversas transformações ao longo de centenas de anos, auxiliar nos modos de identificação precoce dos pacientes e discutir as possibilidades de tratamento.  

A conscientização dos médicos e profissionais da saúde e, ainda, dos próprios pacientes e familiares para a detecção precoce desses quadros é fundamental, pois previne iatrogenia e cronificação. O investimento em exames, condutas e procedimentos, frequentemente invasivos, pode resultar em prejuízos, além de retardar o tratamento mais adequado. Sabe-se que, quanto mais cedo as doenças e transtornos recebem atenção e confirmação diagnóstica, maior a chance de um bom prognóstico, pois o paciente ainda não perdeu sua funcionalidade por completo.

Profissionais de saúde tendem a pensar em transtorno somático somente após extensa investigação, sem se atentar a sinais clínicos que poderiam predizer esse diagnóstico. Por parte dos pacientes, estes não costumam receber bem a notícia de que o seu sofrimento é um quadro psiquiátrico associado a questões psicológicas, mesmo que ainda exija tratamento. As condições aqui assinaladas evidenciam a complexidade que é cuidar desse tipo de paciente.

São pessoas que se apresentam e padecem de forma verdadeira, seu sofrimento é real e eles comparecem a inúmeros especialistas, clínicas ambulatoriais, consultórios médicos e hospitais. Essa informação torna ainda mais relevante a atenção e articulação entre os profissionais. 

ALGUMAS DIMENSÕES DO PADECIMENTO CORPORAL HOJE  

Outro aspecto que não pode deixar de compor a atenção do leitor pelas páginas a seguir diz respeito ao contexto atual. Tal como se sabe desde 2020, o mundo e a população brasileira enfrentam uma situação bastante atípica em decorrência da alta propagação do vírus SARS-CoV-2, conhecido popularmente como coronavírus e suas variantes.

A Covid-19, nome da doença que é transmitida por esse vírus, tornou-se um desafio não apenas para os médicos e epidemiologistas, mas para diversos especialistas, pois a tentativa de conter sua alta proliferação tem exigido medidas sanitárias radicais e isso produz impactos sociais, econômicos, políticos, culturais e históricos. 


Referência: 

Bartorelli B., Catani J., Ohki F.Y.C. Somatização: sofrimentos psíquicos e corporais e seus desdobramentos na prática clínica. “In”: Maria José Azevedo de Brito, Mirella Martins de Castro Mariani, Hermano Tavares. Corporalidade e saúde mental, 1ª edição - Santana de Parnaiba [SP]: Manole, 2021. Pag  129 – 146

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